domingo, 26 de agosto de 2012

MEU 1º ENEF

Cap02: 17 horas 

Viajar durante 17 horas dentro de um ônibus, no começo pareceu-me ser bem angustiante. Não sei se pelas experiências antigas de viajar em ônibus desconfortáveis ou pelo medo que tenho de viagens. Foram 17 horas, apesar de estar sentado, muito bem aproveitadas. Pensar, dialogar, observar, ler, analisar, relembrar angustias e sintetizar tudo isso fossem mudar uma decisão já tomada. A viagem em si demorou bastante. Primeiro o embarque atrasou em 1 hora, pois o ônibus havia atrasado. Segundo no decorrer no percurso engarrafamento na cidade de Timon e longas paradas em outras cidades.
Eu e meus companheiros de viagem entramos no “expresso para Belém” e nos acomodamos. O ônibus era confortável. Carol foi ao meu lado, Marcelo ao lado de Brayan e Luana foi sozinha em um banco diagonal ao dos meninos. Conversei bastante com Carol e tirei muitas brincadeiras com os demais companheiros de empreitada. Percebi que aos poucos os outros integrantes de tal aventura buscavam um belo sono como refugio. Logo minha acompanhante de banco cochilou e dividi meu lençol com ela. Em pouco tempo comecei a observar a vegetação do Estado do Maranhão. Percebi poucas mudanças, mas percebi que o cerrado aos poucos começava a ficar mais denso e as matas de Cocais ficavam cada vez mais abundantes. É uma vegetação muito parecida com localizada aos redores da minha amada cidade natal. Estas observações lembraram-me bastante minhas aulas de geografia. Lembraram cada palavra sobre as florestas de transição. Florestas com arvores tortas, mas que já começavam a serem mais altas e próximas umas das outras. Sem falar na imensa quantidade de carnaúbas. Pura transição de clima transparecendo na vegetação.
Quando passamos pela cidade de Caxias tirei o livro “O Estado do Futuro” dentro da mochila e comecei a devorá-lo. Admirei bastante cada linha deste livro. Posso dizer que me tornei mais idealizador de um mundo libertário, mais ainda do que eu já era antes de ter a honra de lê-lo. Mundo livre de opressões. Mundo de pessoas livres e detentoras de si próprias, liberdade... Este livro traz bastantes tópicos sobre liberalismo, socialismo e capitalismo de estado e socialismo libertário. Noan Chomsky diz claramente ser socialista libertário e explica o que é cada um dos tópicos, interpreta escritos de grandes pensadores como Humbolt, Marx, Rosa de Luxemburgo, Bakunin entre outros tantos. Apesar de ser tão pequeno, este livro marcou profundamente minha mente. Refleti-o durante boa parte da viagem.
Muitas outras reflexões surgiam na minha mente. Pensei bastante sobre uma das minhas últimas palavras compartilhadas com uma certa pessoa, o ENEF será minha despedida do M.E. Eu já estava saindo de uma crise ideológica, emocional, familiar, política, de saúde e ainda estava muito confuso. Ou melhor, ainda estou. Eu já vinha me afastando do Movimento Estudantil, reuniões estavam sendo cansativas e minhas palavras cada vez mais niilistas. E este ENEF estava na minha cabeça como uma adeus, não é a toa que eu queria curtir e não representar mais nada. Aos que se lembram, eu até redigi minha carta de renuncia do meu amado CAFAR (faltou apenas entregar para anexar em ata) e também já queria me afastar da disputa contra os pelegos da UJS.
A saída do M.E ecoava por minhas vísceras e turbinava meus neurônios de sinapses. Eu olhava pra janela do ônibus e mistura dores passadas. Mario Quintana estava certo quando disse que viajar era a troca de roupas da alma. Realmente, a ida pro ENEF fiz um banho de loja. Chomsky foi o meu conselheiro de viagem. Vi suas reflexões em um bando de gado solto em meio a um pasto interminável. Não é apenas mais uma metáforas amigos estou falando de latifúndios mesmo. Latifúndios que dominam praticamente toda a extensão da BR que foi de Teresina a Belém. E a questão agrária? Bem, eu nunca tinha meditado sobre a questão da reforma agrária e acho que lendo a autonomia dos trabalhadores de Chomsky juntamente com minha crise ideológica fez com que eu percebesse assuntos que me fugiam da realidade, como reforma agrária, MST, exportações e importações. Pra que tanta terra para quase nada? Tanta terra para poucos, por quê?
Em meio a tantas interrogações e coração apertado de reflexões chegou a hora do almoço. O ônibus parou em uma cidade chamada Santa Inês, terra natal de meu brother Brayan, e deliciamos uma comida muito boa que condizia ao seu absurdo valor. Demorou bastante e a fluidez da amizade em relação aos meus companheiros aumentava e os laços se fortaleciam rapidamente. Ao termino de quase uma hora de almoço a viagem já estava bem atrasada e cada brincadeira já entre nós, distintos viajantes, já era mais do que pura intimidade, amigos de velhos tempos. Se eu fosse sociólogo com certeza faria uma pesquisa sobre as viagens como modo de interação entre pessoas. Pessoas estas que tinham até de certa forma pouco contato pessoal. Posso citar Carolzinha que nos tornamos grandes amigos em pouquíssimo tempo.
17 horas compactuando e compartilhando brincadeiras diversas, coisas impagáveis. Coisas que o capitalismo ferrenho nunca irá comprar. Com cair da noite resolvemos nos juntar todos e trouxemos Luana que estava isolada para nossos bancos. Acabamos cochilando depois de um bom tempo de brincadeiras. Quando os ponteiros davam 22 horas e alguns minutos percebemos que estávamos próximos a capital paraense devido a urbanização constante (muitos prédios, casas e etc). Alguns minutos depois desembarcamos na rodoviária da antiga capitania do Grão-Pará.

sábado, 25 de agosto de 2012

Meu 1º ENEF




Cap 01: Benção pai, benção mãe

Era uma quinta-feira dia 19 de julho de 2012 beijei minha mãe, dei um abraço bem forte em meu pai e atravessei a rua correndo pra pegar o ônibus. Senti no olhar dos meus pais aquele sentimento de saudade que aperta o coração antes mesmo de sentir saudade, mas eu sentia dentro do meu peito encaliçado que muita coisa iria acontecer nestes 10 dias longe de casa. Sendo assim peguei o ônibus e segui minha pequena jornada até a casa do meu amigo, não só de viagens ou de curso mas sim amigo pessoal, Marcelo. Fui à casa deste pois na madrugada seguiríamos em comboio para a rodoviária da cidade. Neste breve percurso eu carregava uma mala pequena com roupas suficientemente contadas para tal “aventura”, uma mochila e um saco com alguns suprimentos de higiene pessoal como xampu, sabonete, escova de dente e creme dental além de suprimentos para a mente como um livro cujo título era ‘O Estado do Futuro’ de Noan Chonsky. Acho relevante lembrar que este livro abriu muito minha mente para vários pensamentos e ideias.

No decorrer da minha pequena viagem até a residência do dito cujo de apelido Zé Gotinha, afinal moro em um bairro afastado do restante das pessoas as quais convivo, desci na praça do Fripisa e peguei outra condução. Carregando meus trambelhos, como diria minha falecida avó, cheguei ao lar de meu amigo de estrada. Ele não se encontrava lá. Havia ido passar uma tarde com sua namorada. Não demorou muito ele chegou e fomos até a casa de sua namorada novamente pois ela havia esquecido sua pulseira com ele. Bom, chegando lá jantamos hambúrguer, ele novamente se despediu dela e voltamos para o lar de onde partiríamos à noite.

Enquanto a mãe de Marcelo arrumava sua bagagem saímos para comprar alguns mantimentos estomacais para a viagem. Novamente ao re-retorno (perdoem-me pelo neologismo) ficamos inconformados com a demora de nosso outro companheiro Elton Brayan, já que havíamos combinado de pegá-lo antes à noite antes de viajarmos. Ele “cagou o pau”. Estava programado assistirmos o filme ‘Se Beber não Case’ para inspirar nossa “aventura”. Cochilamos um pouco enquanto o despertador não tocava. Acordamos umas 4 horas da manhã para chegarmos umas 5;00 na rodoviária pois o embarque previsto era 5;30. Eu levantei primeiro, preocupado como sempre, dei uma mãozada em Marcelo pra ele despertar, liguei para Brayan já que ele havia “cagado o pau” pra saber onde ele estava e que já estávamos partindo e liguei também para Luana ficar esperando que em breve a pegaríamos em sua residência e para Carol SA (não é de sociedade anânima), para saber se esta já estava na rodoviária. Brayan chegou de táxi na casa de Marcelo, colocamos as bagagens no carro e zarpamos para Luana’s house.

Em pouco tempo chegamos in Luana’s house para meu futuro trauma. No carro iam eu, Marcelo e Elton no banco de trás e a mãe e avó de Marcelo no banco da frente sem falar no bagageiro cheio. Então como Luana e seus trampos iriam? Bem, ela foi no banco dianteiro dividindo com avó de Marcelo e suas bagagens foram nas minhas pernas, sendo que umas destas malditas malas estava pressionando fortemente um órgão que quando pressionado promove uma dor bem aguda. Enfim chegamos à rodoviária, para meu alívio e para o fim da risada de todos que se alegravam com meu sofrimento.

 Carol SA já esperava-nos na entrada da rodoviária. Entramos todos para a ala de embarque e esperamos o ônibus chegar. Chegou o ônibus 6;30, atrasou 1 hora, e então despedimo-nos de nossos entes e zarpamos.

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Um breve desabafo

Hoje dia 16 de julho, eu vi um paciente que agonizava durante mais de 20 anos sucumbir ao último tragar de oxigênio. Que lindo banquete dentro de um Hospital! Banquete para comemorar a morte deste adorável paciente. A comida estava ótima, pessoas bem arrumadas, sorridentes e vibrantes. Foi tão lindo. Tão lindo? Pera aí dentro de um Hospital? Mas não era uma morte? É amigos agora que a tragi-comédia vai começar...

Vemos hoje tudo ser privatizado, tercerizado e neste contexto muitas coisas as vezes não são vendidas, são apenas entregues à investidores, compradores, financiadores, blá blá blá... Ricos! O setor público cada a momento esta sendo destruido por falta de investimentos sendo caracterizado como serviço imprestável, defasado e com problemas irreversíveis. Por que sucatear uma coisa que tem por obrigação ser gratuita? Por que tanto egoismo? Será que o ego canta tão alto que não consegue tirar o cabresto da ganância?

Minha mente fervilha em ver tanta desigualdade, não sei se consigo mais nem ficar inconformado. Não consigo descrever mais minha indignação. Maldito chip burocrático e comodista que recebemos todos os dias em colégios, casas e universidades para vermos isto e não sentirmos absolutamente nada. Afinal desigualdade, castas, classes, hierarquias, tudo isso é normal, vem de muitos e muitos anos. Mas por ser antigo teremos que aceitar? Se depender de mim não aceito mais estas hipocrisias dominadoras. Mas será que depende só de mim?

Desde antes de entrar na universidade, sinto os males da voracidade egocêntrica humana por toda a parte. Eu só não sabia ou melhor não compreendia suas origens mais profundas. Razões sociais, políticas, econômicas, educacionais. Talvez eu não entenda até hoje, no entanto já tenho várias direções tomadas. E esta minha percepção do contexto humano em seus proprios atos desumanos me levou a fazer um curso de saúde.

Como todo bom estudante de saúde li, reli e acho as diretrizes do SUS maravilhosas. Poxa não há nada igual. Perfeito. Pena que ele seja uma bula de mediamento guardada dentro de um cofre. O SUS não funciona. Mas por que ele não funciona? É impossível de ser completamente implantado? Nunca sairá do ideal? Não! Ele é aplicável sim! O SUS foi uma conquista histórica dos trabalhadores brasileiros. Segue moldes de um socialismo de estado semelhante ao modelo de saúde cubano. Uma dessas caractéristicas é a base de seu sistema a atenção primária. E se foi baseado no modelo cubano podemos concretiza-lo sim, pois afinal o modelo cubano funciona. E como funciona (suspiros)!

Talvéz o maior erro do nosso sistema de saude seja a partir do momento que abriu margem para o privado 'complementá-lo'. O ato de complementar é muito amplo. Não é a toa que saúde boa é a da rede privada. Não é essa a idéia que fazem passar para nosso subconsciente? Afinal e os investimentos para a saúde pública? Será que temos profissionais bem formados para a área humana? Só que não.

Bem, desculpem meus caros leitores-seguidores do meu consolador blog, desabafei mesmo sobre a sacana situação que nossa saúde está vivendo pra falar sobre este dia tão festivo e marcante em minha vida. Afinal eu vi tantos homens determinados em conseguir lotes em um terreno que dá tanto lucro que é a saúde. Eiii, mas eu não estava falando de uma morte? Ahh então explica-se a presença ilustre de tantos senadores, deputados, vereadores e o diabo elevado à quarta potência em uma inauguração de um Hospital Universitário que será gerido por uma empresa de caráter público-privada. Eu falei privada... se tem capital, tem lucro, ai Marx falava, Mais valiaaaa. E quem vai ser a mais valia num Hospital cheio de alunos? Ahh meu Deus será os estudantes? Possivelmente. E quem vai lucrar? Hmmmm basta pensar. Quem investe, financia, compra e blá blá blá. Presenças ilustres? Comemorando uma morte? Hospital Universitário? Capital? É amigos HU-UFPI em seus principios de saúde pública, autonomia universitária e ideais educacionais morreu. Para a alegria de poucos, ele foi terceirizado.

No meu curto e rápido engajamento no movimento estudantil venho debatendo e acompanhando sobre privatizações tanto da educação quanto da saúde. E saí das linhas teoricas hoje ao ver uma acordo de terno e gravata, dividindo as capitanias hereditárias (leitos) do H.U senti toda minha teoria extravasar e o pior senti a incapacidade de contrapor ao sistema. O grito de indignação de meses ficou limitado à um ESTUDANTE QUER FALAR! O peixe foi anunciado no mercado e muito bem anunciado, a imprensa estava lá. Rádios, Tvs, jornais impresos e Portais. Até a nave do filme MIB homens de preto pousou ao lado, acho que até eles quizeram saber o preço do lote.  Todos estavam para analisar o grande peixe que foi oferecido. Isso não é conversa de pescador. A vangloria foi tão linda, um Buffet dentro do Hospital, Dentro do Hospital??? Espero que peguem todos os cocos, stafilococos, estreptococos... que existem em um hospital. Deixemos isso para lá. Falas e mais falas, lindas e românticas. O saudosismo de Gonçalves Dias Nem chegava perto de tamanho amor. Cerimônia tão linda e fechada. 

Durante tantos debates, tantas caminhadas por Centros Academicos e DCE. Durante batalhas, durante o Coneufpi... Conheci tantos que queriam lutar comigo, tantos que enfrentariam exercitos para não ver a sangria do H.U-UFPI, debatemos tanto juntos. Mas na aula prática faltaram. Por que amigos? Por que...? Cinco patinhos foram lutar, sufocados pela imprensa, seguranças e politicos tiveram que se calar. Calar???? Calar não, jamais. Os cinco patinhos entraram onde não foram convidados, esqueceram os amigos de teoria e implementaram a prática. Percebi naquele momento o medo dos engravatados de uma simples frase: ESTUDANTE QUER FALAR! Poxa o desabafo simples e singelo desarticulou tanto os marajás da terra da "cajuina cristalina em Teresina". Estudante tem voz, tem poder, transmite medo, no entanto acha que a teoria é tudo. Pode parecer exagero mas me senti como nas Termópilas. Perdi ao lado dos meus amigos, porém minha cabeça continua erguida. Não foi um segurança que nos fez recuar, muito menos um exercito de investidores. Nossos ideiais por mais sonhadores que sejam, são nossos ideais.

H.U agoniza no público sentindo o inferno do privado. A luta não acabou, apenas começou. Espero meus amigos que larguem de mão os bê a bás de suas demagogias e caiam na real. Lutem como estudantes. E não como boxeadores sem mãos e sem braços.